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NOME
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Josef
FABIAN
ou Iosif FABIAN II |
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NATURALIDADE
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Cluj
Napoca - Transilvânia
(Austro-Hungria, depois Roménia) |
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DATA DE NASCIMENTO
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08/10/1925 |
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DATA DE NASCIMENTO
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06/07/2008 (Cascais) |
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POSIÇÃO
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Avançado
(Ala ou Centro)
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CLUBES
(como jogador)
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Muncitorii Cluj - Roménia
(camadas jovens) |
| Tisza
Szegedi VSE - Hungria? |
| Szegedi
AK - Hungria (43/44) |
| MAVAG
Budapest - Hung. (44/45) |
| Ferar
Cluj - Roménia (45/46) 7-3 |
| FC
Carmem Bucareste - Rom. (46/47) |
MTK?
- Hung. (47/48?)
Torino - Itália (47/48) 15-9 |
| Lucchese
- Itália (48/49) 28-12 |
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Bari - Itália (49/50) 31-4 |
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Bari - Itália (50/51) 32-11 |
AS
Cannes - França (51/52)
* - cedido ao Roubaix-Tourcoing
também da França em 1952 |
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AS Cannes - França (52/53) |
| Sporting
- Portugal (53/54) |
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Sporting - Portugal (54/55) |
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CLUBES
(como jogador-treinador)
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| Barreirense
(55/56) 13-4 |
| Serpa
(56/57) |
| Sp.
Covilhã (57/58) |
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CLUBES
(como treinador)
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| Caldas?
(58/59) |
Ac.
Viseu (59/60)
* - a meio da época |
| Gin. Alcobaça (60/61) |
| Caldas
(61/62) |
| Lusitano
de Évora (62/63) |
| Atlético
(63/64) |
Olhanense
(64/65)
* - época incompleta |
Barreirense
(65/66 )
* - até à 16.ª jornada |
| Farense?
(66/67) |
Texáfrica - Moçambique
(1967 a 1970) |
Chaves
(70/71)
* - substituído por Frederico Passos |
| Silves
(71/72) |
| Silves
(72/73) |
| (...) |
| Tires |
| Texáfrica
- Moçambique |
| Sp.
Covilhã |
| Estoril-Praia
(juniores) |
| (...) |
Imortal
de Albufeira (83/84)
* - substituiu Adanjo |
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(...) |
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Ao
serviço os italianos da Lucchese,
formação com as cores rubro-negras
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Em
Portugal, ao serviço do
Barreirense (em cima) e do
Sporting da Covilhã (em baixo)
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Nasceu em Cluj-Napoca,
cidade da Transilvânia que pertenceu ao Império Austro-Húngaro,
dissolvido após a I Grande Guerra.
Quando Fabian nasceu a cidade pertencia à Roménia
há menos de uma década (com o nome Iosif Fabian
II chega a jogar pela selecção romena, conduzida
pelo técnico Virgil Economu, nos anos quarenta, em três
JOGOS),
apesar de ainda ter forte presença magiar.
Jogou em clubes húngaros antes de regressar a um clube
da sua cidade, o Ferar Cluj, clube com quem o C.F.R. Cluj (hoje
em dia um dos maiores clubes romenos) se fundiu após o
final da 2.ª Grande Guerra, tendo em vista disputar o escalão
principal da Roménia. O C.F.R. Cluj, depois de ter sido
várias vezes campeão regional da Transilvânia
e de ter jogado no terceiro escalão romeno, participou
no segundo e primeiro escalão húngara (como Kolozsvári
AC) entre 1940 e 1944 (ou seja até ao final da 2.ª
Grande Guerra, pois durante a ocupação nazi, os
alemães "devolveram" a parte norte da Transilvânia
à Hungria).
Transfere-se para o "Grande Toro" (a poderosa formação
italiana orientada então pelo húngaro Ernest Erbstein,
que ficou tragicamente famosa também pelo desaste de Superga)
onde vence o scudetto, faz 15 jogos e marca 9 golos, sendo o único
estrangeiro da equipa. Apesar de ter sido internacional romeno
nessa altura, chega a Itália como apátrida (quando
chegou ao nosso país já tinha a nacionalidade húngara).
É depois cedido à Luchese e joga noutros clubes
italianos e franceses, e quando se aprestava para jogar também
em Espanha, no Atlético Madrid, isso acaba por não
se concretizar, chegando a Portugal para jogar no Sporting, já
com nacionalidade húngara, mas adquiriria também,
mais tarde, a cidadania portuguesa. Depois de iniciar a carreira
de jogador-treinador no Barreiro, orientou mais tarde o nosso
clube durante a quase totalidade da temporada 1964/65, sendo substituído
na parte final por José Mendes. Curiosamente, cerca de
duas décadas depois, o último clube que treinou
foi o nosso vizinho Imortal de Albufeira, no Distrital. |
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ENTREVISTA
AO RECORD
(publicado a 8 de Junho de 1999)
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Desastre
de Superga: Fabian conta como escapou à morte
SOBREVIVENTE DA EQUIPA DO TORINO SALVOU-SE POR NÃO TER
PASSAPORTE
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"HOJE, mesmo
tendo passado já cinquenta anos sobre aquela fatídica
data, ainda recordo com um misto de grande amargura e de uma profunda
saudade todos os meus antigos colegas de equipa do Torino, até
hoje a melhor equipa do Mundo que eu vi jogar futebol". Josef
Fabian, já cidadão português, agora com 73
anos de idade, radicado desde há muito no nosso país
e a residir nas Fontainhas (Cascais), desde que regressou de Moçambique,
o único dos jogadores do plantel do prestigioso Torino
e que acabou por escapar à tragédia de Superga,
quando, a 4 de Maio de 1949, o avião Fiat G 212, que "voava"
desde Lisboa, chocou com a colina de Superga, a escassa distância
de Turim, tendo falecido todos os seus passageiros, desde os elementos
da equipa transalpina, tais como jogadores, técnicos e
dirigentes, até aos jornalistas que haviam viajada até
à capital portuguesa para a cobertura do jogo Benfica-Torino,
de homenagem a "Chico" Ferreira, o capitão dos
encarnados e da selecção nacional.
Mesmo meio século depois de tão trágico acidente,
Josef Fabian não consegue esconder, nem sequer disfarçar,
uma natural emoção, dizendo-nos: -- Sabe, fui o
único a escapar à morte, só porque não
tinha passaporte. Como tinha deixado a Hungria para fugir de uma
certa situação política, a minha documentação
não estava em ordem, e não me deixaram partir para
Lisboa para participar no jogo de homenagem a Francisco Ferreira.
Na altura em que decidiram que eu ficaria em Turim, naturalmente
que fiquei muito triste, mas, depois do que aconteceu, considerei-me
um homem bafejado pela maior sorte deste Mundo.
ITÁLIA DE LUTO
Nascido na Transilvânia, na altura território romeno,
Josef Fabian viria, contudo, a dar os primeiros passos como jogador
de futebol no Szegeb, clube da cidade do mesmo nome que dista
cerca de uma centena de quilómetros de Budapeste. No entanto,
o seu primeiro título de campeão viria a acontecer
com a camisola de um clube romeno, o Carmem Bucareste, tal como
o refere:
Isso aconteceu em 1941, sagrando-me campeão da Roménia
em representação do Carmem Bucareste, enquanto,
no ano seguinte, novamente a jogar pelo Szegeb, alinhei por essa
equipa que venci o campeonato da Hungria. No entanto, a situação
na Hungria não estava nada bem, com os problemas da guerra
a avolumarem as nossas dificuldades, ao mesmo tempo que a implantação
de certas ditaduras obrigava muitos milhares de húngaros
a tentarem a sua sorte noutros países, não hesitando
em atravessar a sua fronteira em busca de uma vida melhor.
Foi o que terá acontecido consigo?
O director técnico do Torino era um húngaro, de
seu nome Ernest Erbstein, que, mais tarde, seria o padrinho da
minha filha e não hesitei em contactá-lo, tentando
o meu ingresso naquela famosa equipa italiana, na altura a dominar
por completo o futebol do seu país, servindo de base à
selecção italiana, onde praticamente alinhavam todos
os seus jogadores, pois apenas um, o Caraplese, não actuava
no Torino.
Conseguiu, portanto, um lugar na famosa equipa de Turim.
O que não foi nada fácil, dada a categoria dos jogadores
da equipa capitaneada por Valentino Mazzola. Recordo-me até
que, antes da equipa do Torino viajar para Lisboa, para colaborar
na festa de Francisco Ferreira, jogámos com o Milan, a
1 de Maio, com a vitória a pertencer-nos, por 2-1, tendo
eu marcado um dos golos, nunca imaginando que aquela seria a última
vez que estaria ao lado de tão excelentes companheiros
e de jogadores de grande nível.
A tal não existência de passaporte acabaria, depois,
praticamente, por lhe salvar a vida?
Exacto. Eu era o único estrangeiro a jogar naquela equipa
e, como disse, praticamente havia fugido da Hungria, ao encontro
de uma vida melhor. Não tinha os papéis em ordem
e não me deixaram sair de Turim. Dias depois, já
em pleno aeroporto, preparava-me para lhe dar um abraço
de boas-vindas, quando, uns trinta minutos antes da hora prevista
para a chegada, soube do trágico acidente ainda hoje não
totalmente explicado. Isto porque do Aeroporto de Turim terão
chegado a ordenar ao piloto que, devido ao intenso nevoeiro, deveria
tentar aterrar em Roma, ou em Milão, mas, devido à
insistência dos jogadores, este terá tentado fazê-lo
em Turim, infelizmente, com o desfecho que se conhece.
Poder-se-á mesmo dizer que toda a Itália, a do futebol
e a outra, ficou mesmo de luto, após esse desastre de Superga?
Ainda hoje tenho bem presente na memória não só
o choro e os lamentos de todos aqueles milhares de pessoas --
houve até quem chegasse a falar num milhão -- que
se incorporaram nos funerais, como as mais variadas manifestações
de solidariedade que chegavam de todo o Mundo. Sandro Mazzola,
o filho do capitão Valentino, na altura com sete anos de
idade, foi até levado para fora de Turim, para não
estar em contacto directo com toda aquela tragédia.
Para Josef Fabian "depois disso, o Torino nunca mais foi
o mesmo e até eu próprio não me sentia em
condições psicológicas para continuar a envergar
a camisola do clube, pois recordava-me constantemente dos companheiros
tão tragicamente desaparecidos do número dos vivos.
Em Itália, ainda jogaria pelo Luchese e pelo Bari, mas,
depois, tentei a minha sorte noutros países, mesmo sem
nunca esquecer que a minha filha nasceu em Turim."
GLOBETROTTER DO FUTEBOL
Depois de Itália, França foi a etapa que se seguiu,
na carreira futebolista de Josef Fabian, que, aí, alinhou
no Cannes, passando a seguir para Espanha, estando prestes a vincular-se
ao Atlético de Madrid, tal como conta: -- No entanto, havia
o problema dos estrangeiros e a Federação Espanhola
não me autorizou a jogar no clube de Madrid. Foi nessa
altura que um dirigente do Sporting, Júlio Oliveira Martins,
me viu treinar, convidando-me a ingressar no clube português,
o mesmo acontecendo com Janos Hrotko, na altura a jogar no Saragoça.
Um convite que finalmente correspondeu à sua presença
em Lisboa, anos depois de se ter malogrado a viagem à nossa
capital, com a equipa do Torino. -- Na verdade, assinei pelo Sporting
e fiz a minha estreia na festa de homenagem a Veríssimo.
Nos leões, ainda fui campeão nacional, integrando
excelentes equipas do clube, com Joseph Szabo e Tavares da Silva
como responsáveis, tendo vivido em Alvalade dos melhores
momentos da minha vida. Hoje, ainda recordo, por exemplo, o jogo
onde o Sporting ofereceu o título de campeão ao
Benfica, indo empatar, nas Salésias, com o Belenenses que
já se preparava para fazer a festa, quando o Martins marcou
o golo do empate ao José Pereira. -- Depois do Sporting,
Josef Fabian viu o seu nome ligado aos mais diversos clubes e
nos variados escalões do futebol português? -- Primeiro,
foi o Barreirense, onde estive como treinador-jogador, com o clube
do Barreiro a ficar em 6º lugar no Nacional da I Divisão,
tendo colaborado no lançamento do então jovem José
Augusto. Curiosamente, nesse ano, obtive nove golos na marcação
de cantos directos.
A seguir, fui para o Serpa, na altura em que a equipa alentejana
contava com dois excelentes avançados, o Patalino e o Teixeira
da Silva, acabando por vencer o Nacional da III Divisão.
Ao Serpa, seguir-se-ia o Sporting da Covilhã, com Tavares
da Silva como director-técnico, e Fabian na dupla condição
de treinador-jogador. "Nessa época, o Covilhã
tinha excelentes elementos, desde o Cabrita, Lourenço,
Cavém, Tonho e o argentino Óscar Silva. Derrotámos
o Vitória de Guimarães, treinado por Fernando Vaz,
e subimos à I Divisão", recorda Josef Fabian
que acrescenta: "No Caldas, não consegui evitar a
descida, mas, no ano seguinte, estive à frente de uma excelente
equipa do Lusitano de Évora que ficou em 7º lugar
no Nacional da I Divisão. Aí jogavam o Vital, José
Pedro, Carraça, Falé e Paixão, entre outros."
Olhanense, Farense e novamente o Barreirense antecederam o ingresso
de Fabian no futebol moçambicano. "Fui treinar o Texáfrica
e de 1967 a 1970, a minha equipa foi sempre a campeã de
Moçambique. Depois disso, estive no Chaves e no Silves,
tendo regressado ao clube de Vila Pery, que voltou a vencer o
campeonato moçambicano. Aí estive mais três
anos, até voltar a fazer as malas e, já na condição
de retornado, regressar ao Sporting da Covilhã, como treinador,
sendo o meu filho jogador do clube." Mas, já com a
saúde algo abalada, Josef Fabian teve de renunciar um pouco
ao seu desejo (e necessidade) de treinar certos clubes, acabando,
no entanto, "por dar uma ajuda ao Tires, que se manteve na
III Divisão, levar os juniores do Estoril ao Nacional da
I Divisão, tal como tentei que o Imortal subisse de escalão.
No entanto, tive de encostar às boxes, pois já não
me sentia nada bem, nem em termos físicos, nem em tudo
o resto, pois, ao deixar Moçambique, tive de abandonar
tudo o que havia conseguido na vida, quer em dinheiro, quer do
meu património. Restava-me, apenas, a condição
de ser já um cidadão português, o que me permitiu
abrir algumas portas. Infelizmente não muitas, pois as
dificuldades têm-se acentuado." |
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